YOGA SŪTRAS DE PATĀÑJALI – PARTE 5 – Vairāgya

Vairāgya – o segundo meio utilizado para produzir a restrição das atividades da mente, os citta-vṛttis, segundo o Yoga Sūtras de Patāñjali. 

Vairāgya é derivada da palavra sânscrita rāga. Rāga é definida no sutra II-7 como atração que surge do prazer que se origina de qualquer objeto. Vairāgya é a AUSÊNCIA dessa atração por objetos que dão prazer e pode ser definido como DESAPEGO. Esse desapego, que é uma ausência da necessidade desejos, dá ao praticante uma vida de liberdade, pois apesar de desejar ainda, ele não sente necessidade de nada e vive com o coração leve em busca da auto-realização.

Existem estágios de vairāgya. No início, o praticante aparentemente não tem mais apego, mas as raízes do apego permanecem. Enquanto as raízes existirem, o praticante corre o risco de ‘cair’ pelos degraus alcançados, deixando-se envolver pelo apego novamente. 

Quando o praticante percebe puruṣa, tem o perfeito domínio dos desejos, vivendo sua vida sem possuir o desejo insaciável por nada do mundo material, por entender que tudo no mundo material é temporário e não deve ter tanta importância como tinha antes. 
Atingindo kaivalya, o praticante naturalmente se estabelece em para-vairāgya que é uma característica de puruṣa. Este vairāgya, baseado na destruição de avidyā (‘ignorância’) e na compreensão de que tudo está em puruṣa, é a mais elevada forma de vairāgya. Aqui, as raízes de vairāgya não mais existem, portanto o praticante não corre mais o risco de de se apegar novamente ao objeto de seu desejo.

Observe os sūtras a seguir:

I-15 Drstanusravika-visaya-vitrsnasya vasi kara-samjna vairagyam

A consciência de perfeito domínio (dos desejos) no caso de alguém que tenha deixado de ansiar por objetivos vistos ou nao vistos (escutados) é vairāgya.

1-16 Tat param purusa-khyater gunavaitrsnyam 

Este é o mais elevado vairāgya, no qual, devido ao percebimento do puruṣa, cessa (torna-se indiferente) o mais leve desejo pelos guṇas. 

Para entendermos a importância de vairāgya na eliminação das atividades da mente, é preciso reconhecer a forma como os desejos agem em nossa mente.
Como diz o Vedānta, toda a ação vem de um desejo inicial. Até o simples ato de fica em pé, por exemplo, vem de um desejo anterior de se levantar.
Existem formas de desejo que, como por exemplo aqueles que são fáceis de abandonarmos, e aqueles que nos causam apego (dependência) pela vontade de repeti-los.

O desejo ainda pode ser por algo que te afaste do autoconhecimento ou o desejo por mais entendimento e por mokṣa.
Segundo os rāja yogis, o desejo pode se manifestar em duas formas: APEGO E REPULSA, ou, rāga e dveṣa. Observe que tanto o apego quanto a repulsa, agitam e mantem nossa mente perturbada, produzindo pensamentos repetitivos, descontrolados e perturbadores.
Quando eliminamos os desejos que nos prejudicam ou prejudicam o outro de alguma forma, que nos afastam do objetivo maior que é mokṣa, estabelecidos em vairāgya, nossas meditações evoluem naturalmente. Passamos a vibrar na frequencia do coração tranquilo, da entrega e da aceitação.
Mas, para alcançar este estado, é preciso abhyāsa. Por isso os dois termos aparecem juntos no sūtra I-12.

Patāñjali vem nos dizer com vairāgya, que devemos eliminar a atração e o apego que causam a escravidão. Esse é o ponto principal a ser alcançado aqui.

Mas então, se eu saciar meus desejos, eu estou em vairāgya? Não!

Primeiro que não é possível saciar todos os desejos, pois ao realizar um, outro surge automaticamente. Além disso, ausência de atração, por saciedade, preocupação com outras coisas ou afastamento dos objetos do desejo não fazem parte de vairāgya. É lógico que no início o afastamento é necessário. Mas, para estar estabelecido em vairāgya, o praticante deve ter contato com todos os objetos do seu desejo, sem sentir a mais leve atração.

É importante frisar que não devemos lutar contra nossos desejos. Devemos, através de viveka (o discernimento), entender o que é bom e o que não é bom em nosso caminhar.
A lógica nos ajuda a desenvolver viveka, mas é a buddhi ou, o contato com o nosso portal entre o mundo sutil e o material, que nos estabelece em viveka.

“Viveka e vairagya podem ser considerados dois aspectos do mesmo processo de dissipação da ilusão pelo exercício do discernimento, de um lado e a renúncia, de outro.” (Taimni)

 


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Om Tat Sat
Ju Campesi

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