YOGA SŪTRAS DE PATĀÑJALI – PARTE 2 – YOGA

Dando continuidade ao nosso estudo sobre Yoga Sūtras de Patāñjali, tenho que dizer que uma das minhas maiores preocupações com os meus alunos, sempre foi a de transmitir da maneira mais didática e simplificada a bela teoria do Yoga e do Vedanta. E essa minha vontade nasceu -nos meus primeiros estudos- da minha própria dificuldade de encontrar material que fosse de fácil entendimento.

Antes de dar continuidade, indico para leitura, a tradução da minha professora de Vedānta, Glória Arieira, ‘O Yoga que conduz à plenitude’.

Patāñjali inicia com o sūtra:


                                                1.1           Atha yoganusasanam 


Agora, o ensinamento do Yoga 

Muitos textos sagrados iniciam-se com o termo ‘atha’. Como traduzido acima, ‘atha’ significa ‘agora’, mas tem uma energia auspiciosa que o envolve, sendo este o motivo de ser escolhido por Patāñjali e outros sábios, como início de suas obras.  Ao usá-la, os autores pedem proteção divina, para que possam discorrer sobre o tema escolhido, com fluidez e proteção.
A partir do segundo sūtra, o Yoga começa a ser apresentado por Patāñjali.
Alguns termos do Yoga Sūtra são bem conhecidos entre os praticantes de Yoga, mesmo que de maneira confusa, e um deles é o segundo sūtra, que apresento a seguir:

“Yoga é o controle das modificações da mente (pensamentos)” 

Ah! Então isso é Yoga? Também…mas não apenas isso. Para entendermos, vamos por partes: 

O que é realmente o Yoga?

Yoga  (lê-se yôga, pois não existe o som de ‘ó’ aberto no sânscrito) é um substantivo masculino que vem da raiz  YUJ e significa UNIR.

Mas, união do que? Da alma individual com a grande alma, que pode ser chamada de Infinita Consciência Cósmica, ou ‘Criador’ ou da forma como você entenda que seja essa energia criadora e mantenedora do universo. Essa união é apenas aparente, pois não existe nada separado, não existem dois seres, apenas um. A união seria então o entendimento de que somos essa ‘grande alma’, ou seja, é a revelação da nossa real natureza.

Um outro ponto importante é entendermos que essa “união” é o objetivo final. O Yoga prepara a mente para esse objetivo. Yoga então é o meio para se alcançar este autoconhecimento. 

Yoga, então, é a união, mas também um conjunto de técnicas para se alcançar esta união. Além disso, Yoga é um estilo de vida que nos possibilita a praticar as técnicas essenciais e onde o praticante coloca sua atenção nele mesmo: nas suas próprias reações, aprisionamentos, escolhas, gostos, aversões… desta forma aprendendo a lidar com a sua própria mente de maneira objetiva.

Agora ficou mais confuso, não é? 

Se Yoga é ‘união’ e ‘um conjunto de técnicas para se alcançar esta união’, então porque Patāñjali escreveu que Yoga é o controle das modificações da mente?

Para entendermos  melhor, devemos estudar os quatro primeiros sūtras (lembrando que esta definição está no segundo sūtra). 

O Samādhi-Pādaḥ, inicia-se com a definição de Yoga: 


YS I – 1 Atha yogānuśāsanam 

Yogaś citta-vṛtti-nirodhaḥ

Tadā draṣṭuḥ svraūpe ’vasthānam

Vṛtti-sārūpyam itaratra 

YS I – 1 Agora o ensinamento do Yoga.

2 Yoga é o controle dos movimentos da mente

3 Então o observador está estabelecido em sua própria natureza

4 Por outro lado sua forma fica semelhante às atividades

Em outras palavras: Patañjali diz que nos “tornamos” aquilo em que colocamos a atenção. Quando a colocamos no exterior, como nos pensamentos e sensações, somos envolvidos por eles a tal ponto, que nos ‘tornamos’ eles, nos afastando totalmente do nosso Eu interior, que é ‘o observador’, ou melhor, a nossa alma. Colocando a atenção no Eu interior, ou seja, na alma, nos reidentificamos com ele, e  ‘assumimos a sua forma’. O praticante encontra-se, então, em samādhi. 

O Yoga acontece quando conseguimos controlar os movimentos da mente, pois eles nos impedem de observarmos o que existe por trás desta agitação. Quando passamos a entender a própria mente, a natureza e o funcionamento dela, conseguimos com paciência controlá-la e direcioná-la ao que desejamos.  Desta forma, podemos calar a ‘mente tagarela’ sempre que desejarmos e com o silêncio e a clareza da mente, passamos a enxergar o que somos realmente: um ser livre de limitação.

Um ótimo exemplo é um rio: em um rio, caem folhas, flores, galhos… que vão sendo levados pela correnteza. Se ficarmos olhando para tudo o que está sendo jogado no rio, e ficarmos acompanhando esses objetos, nunca conseguiremos enxergar o fundo do rio, pois nossa atenção será sempre levada pelo movimento dos objetos no rio. Quando paramos de dar atenção aos objetos, e tentamos enxergar o fundo do rio, aos poucos, ele se tornará claro para nós. 

Nós funcionamos mais ou menos da mesma forma que o rio: nossa mente é o rio, os objetos são nossos pensamentos, e o fundo do rio é nossa alma.
Quando o praticante deixa de se identificar com pensamentos e sensações, ou seja, com tudo que não faz parte dele, ou melhor, tudo que está do ‘lado de fora’ dele, então, ele se adéqua à sua própria natureza, que é ātman, a alma ou, o observador. Quando isto acontece, o praticante inicia a oitava, das oito pétalas apresentadas por Patanjali: o samādhi. Por isso essa primeira parte do livro é chamada Samādhi Pāda.


Explicarei melhor o samādhi nos próximos textos, mas adianto que o samādhi não é a meta final. O yogi deve entrar muitas vezes no estado de samādhi antes de alcançar a liberação final no plano físico.
Após a libertação no plano físico, o yogi inicia a jornada como morador do plano astral, onde deverá se lapidar e eliminar karmas astrais, para que enfim, consiga se libertar do plano astral e adentrar o plano causal. Após inúmeras passagens entre os planos astral e causal, é que o yogi consegue se libertar do seu último fardo, o causal, e ver que é UM com a INFINITA CONSCIÊNCIA CÓSMICA.

Agora que ficou mais claro, voltaremos ao segundo sūtra, para analisarmos as outras três palavras que o compõe:

A segunda palavra do sutra é CITTA, que vem da raiz CIT ou CITI. O conceito de CITTA corresponde à mente. 

VRTTI, vem da raiz VRT que significa ‘existir’. É uma maneira de existir. 
No sutra é traduzido como ‘modificações’ ou ‘funcionamento’. Patāñjali cita 5 tipos de VRTTIs que veremos mais adiante e que nos traz uma classificação que abrange todos os tipos possíveis de modificações da mente. 

Agora, unindo a segunda e a terceira palavras do sutra, ‘CITTA-VRTTI’, podemos ter como conceito ‘funcionamento da mente’ ou ‘modificações da mente’

E por fim temos NIRODHAH, que deriva da palavra ‘niruddhan’, que pode ser entendido como ‘restringido’, ‘inibido’ou ‘controlado’. A raiz verbal ‘rudh’ com o prefixo ‘ni’ significa ‘segurar, prender, dominar. Então, nirodha é um controle, um domínio. Mas, esse controle é feito muito sutilmente: eu seguro a mente… e solto. Seguro… e solto. Até que ela esteja pronta para realizar o seu objetivo, que é nos fazer encontrar a base do Eu, a nossa svarupa, a nossa verdadeira natureza, o Eu interior, livre de limitações, que é o que apresenta o terceiro sutra.
Com esse controle, teremos uma mente gerenciável, que nos possibilita detectar e entender as nossas reações diante das situações para fazermos as melhores escolhas. 

O terceiro sutra é muito significativo, pois ele completa o propósito do Yoga. Com a mente dominada, o praticante alcança a permanência na natureza de quem ele é, ou seja, o ser livre de limitações. Esse entendimento do EU é o foco de uma vida de Yoga. 

E completando os quatro primeiros sutras, no quarto sutra Patāñjali nos diz, que quando não estamos identificados com o Eu Interior, estamos identificados com os pensamentos que ocorrem na nossa mente e assim, nossa verdadeira forma está obscurecida.  

 

 

 

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Om Tat Sat
Ju Campesi





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