Em meditação, visualizei Kṛṣṇa sentado em minha frente. Uma sensação de paz e alegria inundou o meu ser. Coloquei toda a atenção Nele, mas de repente, eu estava sozinha novamente.
Pensei: não posso perdê-Lo! Preciso procurá-Lo!
Até então, acreditava que eu fosse uma mulher. Mas, eu era uma criança muito pequena, com aproximadamente quatro ou cinco anos. Iniciei então, minha sagrada busca, dentro das minhas humildes possibilidades.
Eu estava em um corredor com inúmeras portas. Cada porta era de um quarto, a maioria vazio. Alguns maiores, outros menores.
Meus passos eram acelerados, com ligeiras pausas para verificar cada um dos quartos, enquanto chamava em voz alta:
Kṛṣṇa? … Kṛṣṇa? … Kṛṣṇa?
Muitas vezes tropecei e cai. Mas a dor não me impedia de continuar. Ás vezes percebia que uma sombra pairava sobre mim e eu sentia um pouco de medo e solidão. Mas não me deixou desistir.
Em um dos quartos, encontrei uma linda pena de pavão no chão. Senti que podia levá-la comigo. E cuidadosamente, assim fiz.
Continuei procurando em cada um dos quartos:
Kṛṣṇa? … Kṛṣṇa? … Kṛṣṇa?
De repente, um deles me chamou a atenção. Possuía aroma de incenso e energia sagrada. Senti como se estivesse em um templo, e que a energia daquele local me daria forças para continuar. Respeitosamente, entrei. Observei que no altar, encostado na parede do fundo, repousava uma flauta dourada. Uni as mãos em frente ao peito e me curvei a ela, com elevada admiração, mas não a retirei do local. Senti que não devia fazê-lo!
Ao sair da sala e retomar minha caminhada, senti que algo tocou meu coração e ele se abriu. Dele, brotaram formas energéticas doces e avermelhadas, que flutuavam …
Continuei andando pelo corredor… buscando Kṛṣṇa agora em silêncio. Sem afetar meu caminhar, agora a cada passo, eu tomava a forma das inúmeras vidas humanas que tive: homem e mulher em vários rostos e corpos… E após um tempo, retornei à criança que sofria por Kṛṣṇa.
Senti atração por um quarto pequeno. Entrei. Possuía uma janela de tamanho médio, enfeitada por uma cortina muito fina de renda branca. Do outro lado, pude ver Kṛṣṇa nas montanhas, sob o luar, tocando sua flauta de melodia celestial. Uma luz azul irrompeu entre as minhas sobrancelhas. Ela era doce e me acalmou.
A cortina me impedia de vê-Lo totalmente. Não era possível abrir a cortina e pular a janela. Me senti perdida.
Neste instante, surgiu um senhor que espalhava energia de bondade. Senti confiança em permanecer ao seu lado. Sentamos um de frente para o outro em postura de meditação. Com os olhos fechados, em silêncio, meditamos. Ele me guiava sem nenhuma comunicação visível aos falhos sentidos humanos. Mas eu o acompanhava em cada lição. O quarto se transformou nas montanhas geladas do Himalaia. Mas o frio não nos afetou. E após um longo tempo, ele tocou o círculo azul em minha testa, e uma estrela cintilante brilhou neste local.
Lentamente, ele se ergueu. Com o mesmo dedo que tocou minha testa, tocou também a cortina de renda branca. E ela se desfez em inúmeras partes que o vento espalhou pelo espaço.
Com sua ajuda, atravessei a janela. E com o coração repleto de gratidão e amor, corri ao encontro de Kṛṣṇa.
Não pude parar e agradecer o senhor. Mas ele sabia que seria assim. E me abençoou.
Com a alegria pura de uma criança, parei diante do gigante. Sim, Ele era enorme, maior do que tudo o que já tinha visto. Enquanto tocava sua flauta, dançava suavemente e em sua saia haviam inúmeras contas brilhantes que se moviam por estarem ligadas a Ele. Sua dança era encantadora. Sua intensão era chamar seus devotos de volta ao aconchego do lar, no Seu coração. E como uma mãe, que ama incondicionalmente o seu filho, Ele sentiu minha presença.
Quando nossos olhos se encontraram, uma força como a de uma correnteza, me fez mergulhar em uma das contas de sua roupa, e com a sensação de que nada mais me faltava, comecei a girar conforme Ele dançava, com o coração explodindo de amor, emanando ainda mais aquela energia que outrora surgira.
Profª. Juliana Campesi
julho/2017